O QUE É SER PROFESSOR HOJE?
Curso: Introdução à Tecnologia Digital
SRE de Poços de Caldas
Cursista: Wilson Cesar da Silva
Tutora: Eliane Marques
Tradicionalmente a sala de aula é identificada com o ritmo monótono e repetitivo associado ao perfil de um aluno que permanece demasiado tempo inerte, olhando o quadro, ouvindo récitas, copiando e prestando contas. Na maioria das salas de aula presenciais e também via internet prevalece o modelo comunicacional centrado na récita do mestre, responsável pela produção e pela distribuição de conhecimentos.
O professor hoje deve desenvolver estratégias de organização e funcionamento da sala de aula presencial que permitem redefinir a atuação dos professores e alunos como agentes do processo de comunicação e de aprendizagem, sendo um agente facilitador da aprendizagem e da construção do conhecimento compartilhado numa prática docente reflexiva como dispositivo concreto para a formação continuada de professores devido a uma exigência cognitiva e comunicacional das novas gerações que emergem com a sociedade da informação e com a cibercultura.
Os integrantes da chamada geração digital estão cada vez menos passivos perante a mensagem fechada à intervenção, pois aprenderam com o controle remoto da televisão, com o joystick do videogame e agora com o mouse do computador conectado.
Eles evitam acompanhar argumentos lineares que não permitem a sua interferência e lidam facilmente com a diversidade de conexões de informação e de comunicação nas telas. Modificam, produzem e partilham conteúdos. Essa atitude diante da mensagem é sua exigência de uma nova sala de aula e de um novo professor, seja na educação básica e na universidade, seja na educação presencial e na educação à distância.
Não é possível assumir a condição de educadores/educadoras utilizando práticas unidirecionais centradas na autoria exclusiva da emissão sem prejuízo para a educação sintonizada com o espírito do nosso tempo.
A formação do professor é processo basilar para transformarmos a escola em um ambiente significativo de construção de saberes e conhecimentos úteis para a vida cotidiana. Isso significa investir em práticas pedagógicas nas quais a autonomia e a reflexão sobre/na ação constituam pressupostos básicos.
Se o conhecimento contemporâneo é tão incerto, precisamos formar professores/professoras capazes de gerir seus próprios saberes e fazeres pedagógicos. Diversas são as possibilidades metodológicas para a construção de uma Pedagogia do devir, em que professores e alunos possam dialogar problematizando e atualizando as questões e os desafios do conhecimento.
O dispositivo da Pedagogia de Projetos pode contribuir significativamente para o exercício de uma prática pedagógica contextualizada com a formação continuada dos professores.
E uma vez que ensinar é pesquisar, é preciso também atentar para a prática reflexiva no contexto dos projetos de trabalho e aprendizagem. A prática reflexiva é baseada nos pressupostos da ação/reflexão/ação. É preciso discutir o conhecimento na ação, pois este decorre de toda uma experiência docente fundamentada por teorias científicas e espontâneas que são materializadas e expressadas no exercício profissional por meio do saber fazer.
A escola e a formação docente muitas vezes não acompanham, nem estão inseridos no contexto dessas transformações. Daí a reflexão na ação permitirá que o professor aprenda e ressignifique sua prática por meio da análise de sua própria atividade profissional.
Os processos de conhecimento na ação, reflexão na ação e reflexão sobre ação não são estanques. Eles se completam na autoria e na autocrítica do professor e da professora de modo a permitir sua atenção ao espírito do nosso tempo e ao posicionamento adequado às novas demandas da sociedade da informação, da cibercultura e da geração digital.
A cultura da transmissão perde terreno quando, culturalmente, emerge a valorização das interações e da interatividade. Entretanto, a escola tradicional e a mídia de massa ainda se sustentam na cultura da transmissão que separa emissão e recepção.
O professor também pode atentar para a cultura comunicacional emergente e modificar a ambiência de aprendizagem da sua sala de aula e educar em nosso tempo.
Muitos professores sabem que é preciso investir em relações de reciprocidade para construir o conhecimento. Aprenderam isso pelo menos com o construtivismo, que ganhou enorme adesão em escolas de todo o mundo destacando o papel central das interações como fundamento da aprendizagem. Entenderam que a aprendizagem é um processo de construção do discente que elabora os saberes graças às interações com outrem.
O construtivismo significa um salto qualitativo em educação. Porém, mesmo adepto do construtivismo, o professor/professora pode permanecer apegado (a) à transmissão porque não desenvolveu uma atitude comunicacional que favoreça e promova as interações e a aprendizagem.
O professor pode dar-se conta dessa atitude comunicacional e tomá-la como base de inspiração na construção de alternativas às práticas de transmissão que predominam em sua docência.
O professor propõe o conhecimento. Não o transmite. Ele propõe o conhecimento aos estudantes, como o artista propõe sua obra potencial ao público. Isso supõe modelar o domínio do conhecimento como espaços conceituais, onde os alunos podem construir seus próprios mapas e conduzir suas explorações, considerando os conteúdos como ponto de partida e não como ponto de chegada no processo de construção do conhecimento. Ele não está mais reduzido a olhar, ouvir, copiar e prestar contas. Em outra atitude comunicacional, cria, modifica, constrói, aumenta e, assim, torna-se co-autor.
O professor disponibiliza um campo de possibilidades, de caminhos que se abrem quando elementos são acionados pelos alunos. Ele garante a possibilidade de significações livres e plurais e, sem perder de vista a coerência com sua opção crítica embutida na proposição, coloca-se aberto a ampliações, a modificações vindas da parte dos alunos.
Uma pedagogia baseada nessa disposição à co-autoria, à interatividade, requer a morte do professor narcisicamente investido do poder. Expor sua opção crítica à intervenção, à modificação, requer humildade. Mas, diga-se, humildade e não fraqueza ou minimização da autoria, da vontade, da ousadia. Seja na sala de aula equipada com computadores ligados à Internet, seja no site de educação à distância, seja na sala de aula infopobre, o professor percebe que o conhecimento não está mais centrado na emissão, na transmissão.
Na sociedade da informação e na cibercultura, os atores da comunicação tendem à interatividade e não mais à separação da emissão e recepção própria da mídia de massa.
Para posicionar-se nesse contexto e aí educar, o professor/a professora precisará dar-se conta do hipertexto, isto é, do não sequencial, da montagem de conexões em rede que permite e uma multiplicidade de recorrências entendidas como conectividade, diálogo e participação. Eles precisarão dar-se conta de que de meros disparadores de lições/padrão, deverão converter-se em formulador de interrogações, coordenador de equipes de trabalhos, sistematizador de experiências.
O professor/a professora pode construir a sala de aula interativa modificando seus métodos de ensinar baseados na transmissão e memorização. Para isso, será preciso atentar para alguns princípios básicos:
- Disponibilizar múltiplas experimentações, múltiplas expressões.
- Disponibilizar uma montagem de conexões em rede que permite múltiplas ocorrências.
- Provocar situações de inquietação criadora.
- Arquitetar percursos hipertextuais.
- Mobilizar a experiência do conhecimento.
No ambiente comunicacional assim definido, os princípios da sala de aula interativa são linhas de sugestões que podem potencializar a autoria do professor, presencial e à distância. A partir de agenciamentos de comunicação capazes de atender ao perfil da geração digital que emerge com a sociedade da informação e a cibercultura, o/a professor/a pode promover uma modificação paradigmática e qualitativa da sua docência e na pragmática da aprendizagem e, assim, reinventar a sala de aula em nosso tempo.
Interatividade tornou-se uma palavra em voga. Interatividade é a modalidade comunicacional que ganha centralidade na cibercultura e na sociedade da informação. A percepção mais profunda da interatividade pode inspirar a busca de qualidade em educação. Não é apenas um novo modismo. É a expressão da emissão e recepção como criação livre e plural. É um mais comunicacional presente na mensagem que desbanca a lógica unívoca da transmissão de A para B.
Em síntese, ser professor hoje significa superação do constrangimento da recepção passiva. Uma vez que o professor deve ser um comunicador, ele pode sintonizar-se com a nova cultura comunicacional na sala de aula. Seja ela infopobre ou inforrica, seja ela presencial ou à distância.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
SANTOS. Edméia e SILVA, Marco. A Pedagogia da Transmissão e a Sala de Aula Interativa. In: TORRES, Patrícia Lupion (Org.). Algumas vias para entretecer o pensar e o agir. Curitiba: SENAR-PR, 2007.